quinta-feira, 1 de abril de 2010

17ª visita técnica do Diagnóstico de Campo Turistico-Ambiental de Nova Friburgo, RJ: São Romão – Encontro dos Rios

No dia 21 de março de 2010 foi realizada a 17ª visita técnica do Projeto Diagnóstico de Campo Turístico-Ambiental de Nova Friburgo (DCTA-NF), realização do Centro de Estudos e Conservação da Natureza (CECNA) e Equipe de Turismo Receptivo de Nova Friburgo (ETR) com o apoio da Universidade Livre da Floresta Atlântica (UNIFLORA) e da Agenda 21 Local de Nova Friburgo. O trajeto percorrido, de 15,1 Km de extensão, foi entre a localidade de São Romão e o Encontro dos Rios Macaé e Bonito.
 
Mapa 1: localização do município de Nova Friburgo.

Mapa 2: Trajeto percorrido.

Mapa 3: Cobertura vegetal de Nova Friburgo.


Mapa 4: Detalhes do trajeto (clique na imagem para ampliar).

Esse percurso tem como característica principal percorrer localidades pouco conhecidas em Nova Friburgo, apesar das mesmas estarem localizadas dentro de seu território. São elas: São Romão, Cascata e Santa Luzia. Entre os principais fatores para esse desconhecimento está a deficiência de transporte público para essas localidades, agravada sobretudo pela ausência de linhas de ônibus municipais.

A principal via de acesso para essas localidades é a RJ-142, conhecida popularmente como Serramar, cuja história e características principais foram abordadas no relatório da 3ª visita técnica (Lumiar - Encontro dos Rios). O fato da Serramar até pouco tempo atrás ser uma estrada de terra em condições precárias também contribuiu para o distanciamento da população friburguense para essa região. Somente recentemente o fluxo de turistas, tanto de Nova Friburgo quanto das cidades litorâneas para essa região começou a aumentar, o que pode ser comprovado pela intensificação da visitação no Encontro dos Rios.

Um leque de dúvidas surge quanto aos limites municipais nessa região. São quatro municípios que tem parte de seus territórios presentes nas proximidades da Serramar: Nova Friburgo, Casimiro de Abreu, Macaé e Silva Jardim. O rio Macaé, entre Santa Luzia e São Romão, é o objeto geográfico que define o limite entre Nova Friburgo (margem esquerda) e Casimiro de Abreu (margem direita). Nesse trecho, a Serramar acompanha o rio Macaé a sua direita, ou seja, dentro de Casimiro de Abreu. Mas as vilas de Santa Luzia, Cascata e São Romão estão localizadas à esquerda do rio Macaé, consequentemente, dentro do município de Nova Friburgo. Por terem o principal acesso pela Serramar, muitas pessoas acreditam que essas vilas pertencem a Casimiro de Abreu, e também pela proximidade do centro desse município, principalmente em relação à São Romão. O serviço de coleta de lixo domiciliar inclusive é feito pela prefeitura de Casimiro de Abreu, apesar de ser território friburguense.

No entanto, apesar de ser a rodovia asfaltada o eixo principal da região, a presente visita técnica se deu por caminhos alternativos localizados sempre à margem esquerda do rio Macaé, ou seja, integralmente dentro do território de Nova Friburgo. A maior parte do percurso foi constituída por estradas de terra e alguns trechos por trilhas. Como a opção foi iniciar por São Romão, praticamente todo o trajeto foi configurado por subidas.

Na localidade de São Romão pode observar grande fragmentos de floresta em estágios avançados de regeneração, como pode-se comprovar pelo Mapa 2 e pelas Fotos 1, 2 e 3. A vila em si é bem pequena, constituída apenas por algumas casas e sítios de veraneio. Destaque para uma grande pousada, em cuja maior parte da propriedade foi criada uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) lavrada pelo IBAMA. O córrego São Romão, que corta a localidade e que deságua no rio Macaé logo abaixo também se destaca pelas águas cristalinas de excelente qualidade. Já no rio Macaé pode-se observar alguns pontos para banho, certamente bastante utilizados pelos moradores locais.

Na paisagem, morros e encostas acima, há predominância de floresta nativa com algumas manchas de pastagens e, principalmente bananais, como na Foto 1.

Em direção à Cascata, percorre-se uma surpreendente estrada de terra predominantemente plana, que fica escondida da vista pela Serramar por causa das grandes árvores que compõem uma espécie "paredão verde". Ao caminhar por ela observam-se grandes indivíduos arbóreos às suas margens. Analisando o mapa de cobertura vegetal constata-se ser esse trecho a borda de um fragmento importante de floresta nativa em estágio avançado de regeneração e, portanto, extremamente importante para a conservação da biodiversidade regional. Essa é uma situação que necessita alerta, pois, pelo fato de ser um trecho plano e muito próximo a uma rodovia asfaltada, há um grande risco de surgir ocupações irregulares, colocando em risco a integridade dos processos ecológicos naturais do local.

Após um pequeno trecho de trilha, no Km 6 do percurso, chega-se à localidade de Cascata. A partir daí a paisagem modifica-se, apresentando uma maior fragmentação das áreas de floresta nativa e aumento das pastagens. Mais uma vez, assim como na maioria das visitas realizadas, praticamente não se vê rebanhos pastando, o que comprova que a retirada da floresta nada mais é do que a forma mais fácil de ocupação das propriedades. Os donos ou ocupantes dessas propriedades acreditam que essa é a melhor forma de garantir a posse de seu terreno, evitando possíveis invasões e desapropriações. Agindo assim, não levam em consideração a degradação ambiental causada, incluindo a perda da qualidade das águas (quando não o seu desaparecimento) e a possibilidade de adoção de práticas de manejo agroflorestal, que agregariam valor à terra não só pela manutenção da integridade dos ecossistemas naturais que geram serviços ambientais mas como também pela possibilidade de diversificação econômica através de cultivos consorciados com a floresta.

Essa paisagem composta em sua maioria por pastagens predomina no lado de Casimiro de Abreu, nos morros e encostas da margem direita do rio Macaé. Na margem esquerda, dentro de Nova Friburgo e por onde o trajeto é percorrido, devido ao relevo composto por vertentes mais íngremes, há uma maior área de floresta em diferentes estágios de regeneração natural em detrimento às pastagens e às monoculturas, como as de eucalipto e banana, apesar dessas se fazerem presentes.

Uma observação importante em relação a essa situação que pode ser vista com maior clareza do lado de Casimiro mas que não pode ser descartada do lado de Friburgo é que a ausência de cobertura florestal próxima à rodovia potencializa a possibilidade de deslizamentos de terra. O maior exemplo de tal fenômeno aconteceu no ano de 2009. Uma grande movimentação de massa na margem direita da Serramar, sentido Casimiro, próxima à entrada de Cascata, que bloqueou a passagem por completo nos dois sentidos. Foram necessários meses de trabalho para a retirada de milhares de toneladas de terra, causando um prejuízo de milhões de reais, tanto devido aos gastos com a locomoção da terra e a construção de um imenso muro de contenção (ver Foto 9) quanto da impossibilidade do trânsito pela estrada que interliga a região Serrana com a região das Baixadas Litorâneas. Sem contar a possibilidade de perda de vidas humanas, como aconteceu em outro evento da mesma natureza no mesmo ano, na localidade de Santa Luzia.

Próximo ao centro de Cascata destaca-se a Cachoeira de Fumaça, ponto turístico principal do percurso, excetuando-se o Encontro dos Rios. Certamente é a queda d'água com maior volume da região, tendo em vista que é o próprio rio Macaé que cai de uma altura de cerca de trinta metros. O nome é devido a um efeito de "spray" criado pelo impacto da água em uma espécie de "mesa" rochosa que faz com que seja criada uma cortina de água que se descola no ar por alguns metros de distância e que, dependendo da intensidade e posição do sol, cria um pequeno arco-íris no local, fenômeno que se teve o privilégio de presenciar no momento da visita, como pode ser visto na Foto 14.

A localidade de Cascata é a mais populosa do trajeto. Conta com pousadas, bares, restaurante e pequenas mercearias. Muitas casas são de elevado padrão, podendo muitas delas ser de moradores de outras cidades que ali passam os finais de semana.

Após Cascata, novamente começa-se a caminhar por uma estrada de terra. A partir desse ponto o percurso passa a ser composto por subidas bastante íngremes até Santa Luzia. Pelo fato do relevo apresentar maiores declividades, novamente a cobertura florestal de maior porte volta a aparecer. Nesse trecho encontram-se várias nascentes e córregos no caminho que permitem o reabastecimento dos cantis. Mais uma vez pode-se observar na outra vertente do vale do rio Macaé, em Casimiro de Abreu, a predominância das pastagens (ver Foto 15).

No Km 12,2 chega-se à localidade de Santa Luzia. Com poucas casas, foi observado apenas um restaurante na beira da rodovia, próximo à famosa ponte do local. Nesse ponto o rio Macaé adentra o território do município de Nova Friburgo, deixando de servir como limite entre esse município e Casimiro de Abreu. A partir daí, o trajeto passa a ser percorrido pela rodovia RJ-142 (Serramar) que acompanha o leito do rio Macaé pela margem esquerda desse. Do outro lado do rio há uma trilha que conecta a estrada que liga o Encontro dos Rios à famosa vila de Aldeia Velha, no município de Silva Jardim.

Da ponte de Santa Luzia até o Encontro dos Rios, final do trajeto, percorre-se uma distância de 2,9 Km. A paisagem desse trecho é composta por um mosaico de fragmentos de floresta nativa de grande porte e pastagens. Praticamente não há cultivos, com algumas exceções de eucaliptais. O relevo é bastante acidentado, o que força o leito da estrada ser bastante sinuoso, tornando-o relativamente perigoso para o trânsito. Por isso, torna-se urgente a melhoria da sinalização e da fiscalização em toda a rodovia com objetivo de melhorar a segurança. Há muitos registros de acidentes, sobretudo de motocicletas.

É imperioso que, devido a todas as características naturais e socioeconômicas da região, seja implementado o conceito de estrada-parque na Serramar. Muito foi falado sobre isso antes de seu asfaltamento em 2005, mas o fato é que nada aconteceu nesse sentido. As obras na estrada foram feitas de forma tradicional, ou seja, sem atentar para as características próprias do relevo e natureza locais. Muitas vidas já foram perdidas e milhões de reais gastos em consertos causados por imprudência e falta de planejamento e gestão apropriados. Apenas proibir (parcialmente) o trânsito de veículos pesados não é suficiente para minimizar todo o impacto negativo causado pela criação dessa rodovia em uma região tão rica em recursos e atrativos naturais. No entanto, como ela já existe, resta torná-la uma ferramenta de desenvolvimento econômico ambientalmente equilibrado da região, sobretudo do município de Nova Friburgo.

Foto 1: Em São Romão, paisagem composta por floresta nativa e um bananal (localizado acima a esquerda).

Foto 2: Meandro do rio Macaé visto da ponte de São Romão. As águas do Macaé aqui apresentam uma coloração esverdeada um pouco mais turva que nas áreas mais altas da bacia hidrográfica.

Foto 3: Bela vista do Mirante do Km 1,4, onde observa-se a estrada que leva à São Romão, o rio Macaé e grande área florestada cobrindo as margens do rio e as vertentes dos morros locais ao fundo.

Foto 4: trecho da estrada que liga São Romão à Cascata. Destaque para árvores de grande porte localizadas na beira da estrada, cobrindo sua visão da rodovia.

Foto 5: trecho do rio Macaé, ao lado da mesma estrada.

Foto 6: no Km 3,4, a interessante e imponente Pedra do Pachú.

Foto 7: trecho do rio Macaé depois da trilha que começa na Pedra do Pachú, da foto anterior.

Foto 8: nesse ponto o rio se alarga, formando outra bela paisagem, com um conjunto de morros ao fundo.

Foto 9: nessa foto pode-se observar no canto superior esquerdo o gigantesco muro de contenção feito para "tentar segurar" parte da encosta que desabou em meados de 2009, provocando o bloqueio da rodovia Serramar por vários meses. Observe a dimensão do impacto visual causado na paisagem.

Foto 10: foto tirada no mesmo ponto da anterior, mas voltada para a vertente de Nova Friburgo. No fundo pode-se observar uma pequena feição do relevo em forma de "U" quadrado que corresponde a um prolongamento do afloramento rochoso da Pedra Riscada, na localidade de Lumiar.

Foto 11: vista do Mirante do Km 4,8.

Foto 12: em Cascata, paisagem formada predominantemente por pastagens. Repare no centro da foto o corte acentuado do talude feito para abrigar o leito da rodovia e a ausência de vegetação arbórea na parte superior do morro, a receita da tragédia...

Foto 13: ângulo da trilha da Cachoeira de Fumaça, no Km 5,5.

Foto 14: um momento único, um arco-íris formado no "spray" da Cachoeira da Fumaça. A paisagem e o volume d'água da cachoeira proporcionado pelo rio Macaé faz desse ponto um dos melhores atrativos naturais de Nova Friburgo.

Foto 15: vista do Mirante do Km 7,6. Bem ao fundo avista-se um local conhecido como Quilombo, em Casimiro de Abreu.

Foto 16: Vista do Mirante do Km 11,5, próximo à Santa Luzia, onde observa-se um trecho da região com cobertura de pastagens e fragmentos de floresta, sustentada por um relevo composto de morros de altitude entre 500 e 1000 m aproximadamente, separados por vales suspensos formados por vertentes de declividade mediana. Paisagem predominante na vertente continental da Serra do Mar na altura do batólito da Serra dos Orgãos.

Foto 17: vista da rodovia, em direção ao final do percurso, no encontro dos Rios.

Um comentário:

Raphael disse...

Olá, gostei muito do seu blog. Olha, estou iniciando uma pesquisa pela FAPERJ na bacia de São Romão. Você tem dados de densidade demográfica de São Romão? Assim como numero de loteamentos e outros dados que tiver?

Qualquer coisa, é só entrar em contato...


rodrigues_brizzi@hotmail.com