segunda-feira, 31 de agosto de 2009

11ª visita técnica do Diagnóstico de Campo Turístico-Ambiental de Nova Friburgo: Santa Margarida – Boa Esperança de Baixo

No dia 18 de julho de 2009 foi realizada a 11ª visita técnica do Projeto Diagnóstico de Campo Turístico-Ambiental de Nova Friburgo (DCTA-NF), realização do Centro de Estudos e Conservação da Natureza (CECNA) e Equipe de Turismo Receptivo de Nova Friburgo (ETR) com o apoio da Universidade Livre da Floresta Atlântica (UNIFLORA) e da Agenda 21 Local de Nova Friburgo. O trajeto percorrido, de 7,9 Km de extensão, foi entre as localidades de Santa Margarida e Boa Esperança de Baixo.

Essa visita técnica, contrastando com a anterior foi a mais curta até aqui do DCTA-NF. Todo o percurso está inserido no distrito friburguense de Lumiar e nos limites da Área de Proteção Ambiental Estadual de Macaé de Cima, administrada pelo Instituto Estadual do Ambiente, INEA, órgão vinculado à Secretaria de Estado do Ambiente do Rio de Janeiro.

O objetivo inicial da equipe era percorrer o trajeto de Santa Margarida até a localidade de Cascata, próxima à estrada Serramar, caminhando por uma estrada de terra que passa atrás da elevação do relevo que tem a Pedra Riscada no início, formando como que um paredão que separa do vale do rio Macaé do vale do rio Boa Esperança. No entanto, quando chegamos ao início da estrada, havia um portão fechando o acesso, o que nos causou grande surpresa. Mais à frente, quando abordamos um morador local, o mesmo informou que o dono daquela propriedade fechou o acesso devido à movimentação de pessoas na propriedade, situação que o incomodava. Resta a dúvida da legalidade ou não dessa ação, devido ao fato dessa estrada muito provavelmente constituir-se em uma servidão.

Devido a esse imprevisto, o percurso planejado inicialmente foi alterado e tomamos o caminho que leva até a localidade de Boa Esperança de Baixo, diminuindo significativamente a extensão da visita técnica, mas não a intensidade das belas paisagens presenciadas e registradas.

Analisando o mapa de cobertura vegetal e imagens de satélite conclui-se que a região de Boa Esperança e adjacências possui uma intensa utilização do solo. A ação antrópica se dá através da agricultura, pecuária e da expansão imobiliária, sendo essas as atividades que causam maior impacto aos ecossistemas e à conseqüente perda da biodiversidade local. Como de costume na região, as florestas de maior porte e em estágios mais avançados de regeneração ocupam as áreas com maior declividade, onde a ocupação humana é dificultada.

Outro aspecto que chama a atenção de forma negativa em Boa Esperança é a poluição dos cursos d'água. O crescimento na quantidade de construções não é acompanhada de um planejamento espacial que leve em consideração a melhor distribuição das casas nas áreas que não sejam de preservação permanente e também, do ponto de vista de engenharia, de uma preocupação em se implantar fossas de acordo com as especificações técnicas recomendadas. Essas duas situações, além da evidente poluição com o despejo de esgoto doméstico in natura oneram de forma marcante a qualidade das águas locais.

Há também a utilização direta de muitas nascentes para abastecimento das casas. Isso somado à diminuição da cobertura vegetal que protege as nascentes faz com que a vazão dos cursos d'água seja diminuída. Segundo inúmeros relatos de moradores locais e pessoas que freqüentam desde há muito tempo a região, o rio Boa Esperança, o principal dali e um dos principais afluentes do alto rio Macaé, já foi muito mais volumoso e limpo. Hoje em dia, seu trecho mais à jusante não permite mais o banho e a descida em botes infláveis, atividades que traziam lazer, e qualidade de vida à população friburguense e aos turistas que visitavam a região.

Ainda assim, a natureza remanescente propicia bons momentos de emoção e de espírito contemplativo. Como dito antes, belas florestas tropicais permanecem nos altos dos morros e montanhas, seja pela dificuldade em se alcançá-las, seja pela consciência de alguns proprietários que conseguem vislumbrar ser mais vantajoso possuir uma rica biodiversidade que valoriza seu imóvel do que pastagens desoladas e iníquas. Formações rochosas também se destacam imponentemente na paisagem e servem como referência à identidade local, como a Pedra Riscada e o Pico da Boa Vista.


Mapas 1 e 2: Cobertura vegetal do município de Nova Friburgo. Nota-se que ao longo do rio Boa Esperança (paralelo ao lado esquerdo do caminho em vermelho) quase não há mais cobertura florestal. Esta concentra-se do lado direito, onde o relevo é mais inclinado.


Mapa 3: Detalhes do trajeto (clique na imagem para ampliar).

Foto 1: visão panorâmica do maciço que tem o afloramento rochoso conhecido como Pedra Riscada (ao centro) como destaque.

Foto 2: foto tradicional, novamente da Pedra Riscada. Note que grande parte da superfície do solo que cobre esse maciço sustenta uma floresta de médio estágio de regeneração...

Foto 3: ... porém, em alguns trechos, sobretudo neste da foto, existem áreas de pastagens, grande parte delas em terrenos muito íngremes e quase sem nenhum gado.


Foto 4: interessante trecho da estrada denominado pela equipe como curva da Ferradura.


Foto 5: nesse ponto do percurso a estrada corta o leito do córrego Santa Margarida. No entorno predomina a vegetação herbácea que compõe as pastagens.

Foto 6: vista do mirante 2. Daqui tem-se idéia da composição do mosaico da cobertura do solo de toda a região, formada sobretudo por manchas fragmentadas de floresta secundária em estágios médios de regeneração e pastagens.

Foto 7: aqui tem-se o primeiro registro de paisagem dentro da microbacia hidrográfica do rio Boa Esperança. Até a foto anterior e equipe encontrava-se na microbacia do córrego Santa Margarida. Ambos, porém, em maior escala, são integrantes da mesma bacia, a do rio Macaé.

Foto 8: localidade de Buraco do Amargoso, no Km 7,1 do percurso. Aqui há, além das pastagens, alguns cultivos, como banana, e alguns pequenos eucaliptais.

Foto 9: rio Boa Esperança. Nesse trecho o mesmo encontra-se relativamente bastante poluído devido ao despejo de esgoto doméstico à montante, realidade que se configura sobretudo no centro de Boa Esperança de Cima.



Foto 10: ao final do percurso, a localidade de Boa Esperança de Baixo.

Nenhum comentário: