quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Parceria CECNA e ETR dá início ao Projeto Diagnóstico de Campo Turistico-Ambiental de Nova Friburgo

No ultimo sábado (06/09/2008), a parceria CECNA e Equipe de Turismo Receptivo de Nova Friburgo (ETR) deu início ao projeto Diagnóstico de Campo Turistico-Ambiental de Nova Friburgo.

O metodologia desse diagnóstico é percorrer a pé os caminhos que levam aos principais atrativos naturais (montanhas, florestas, rios, cachoeiras e trilhas) com potencialidade turística do território friburguense e, nessas investidas, observar a paisagem e fazer registros fotográficos e cartográficos dos percursos.

A equipe do CECNA irá focar o estado da qualidade ambiental desses atrativos naturais, com a posterior elaboração de relatórios sobre os principais impactos e conflitos ambientais em cada atrativo e na sua área de entorno, objetivando com isso criar subsídios para a atuação do poder público nas ações de fiscalização e conservação da natureza. Já a equipe da ETR, de acordo com as observações e os registros, irá preencher formulários padronizados do Ministério do Turismo, com o objetivo de organizar as informações e os dados coletados para a criação de roteiros turísticos.

No dia 06 de setembro de 2008 a primeira visita-técnica foi realizada na Estrada Debossan - Macaé de Cima, inserida totalmente no distrito de Mury. Tendo início no Km 70 da RJ-116, ao lado do Hotel Garlipp, na localidade de Debossan, possui 15,5 Km de extensão até o ponto final, na pousada Amantes da Natureza, na localidade de Macaé de Cima.
 

Acima o trajeto percorrido em vermelho.
 
O tempo total de duração da visita foi de 7h, tendo início às 9h30 e término às 16h30. O tempo foi de céu limpo durante todo o percurso, com uma temperatura média aproximada de 25° a 30° C.
 
De acordo as imagens de satélite a mapas disponíveis para a região, pode-se conferir que o distrito de Mury é o mais conservado do município de Nova Friburgo e está inserido em um dos maiores fragmentos remanescentes de Mata Atlântica do Estado do Rio de Janeiro e de todo o Brasil, fragmento este que corresponde a área da Serra dos Órgãos, que representa a porção central da Serra do Mar no estado. Durante a visita pôde-se comprovar de perto a qualidade das florestas da região, em sua maior parte composta por florestas em estágio avançado de regeneração.
 
Mapa de vegetação do estado do RJ e a região de Macaé de Cima em destaque vermelho.
 
Detalhes do trajeto (clique na imagem para ampliar).

No século 19 e início do século 20, toda a região da bacia do rio Macaé em Nova Friburgo foi tomada pela monocultura do café, a qual destruiu quase que completamente a Mata Atlântica local original. No entanto, diferentemente da maioria do domínio da Mata Atlântica no estado, os moradores da região não implementaram as pastagens como forma de ocupação de suas propriedades, e sim adotando, sobretudo, culturas de subsistência familiares como o inhame, a banana e a mandioca. Essa dinâmica espacial-econômica diferenciada fez com que a realidade atual também se tornasse diferenciada, além, obviamente, do relevo montanhoso, o qual dificulta muito a ocupação e a degradação. Ou seja, em vez de termos uma ampla região degradada, temos um oásis de floresta tropical regenerada no meio de um deserto de pastagens, com alta biodiversidade, disponibilidade de água, regime de chuvas regulado e amplo potencial turístico.
 
Atualmente, devido à importância desse patrimônio natural, o poder público veio implementar um de seus principais instrumentos de proteção da natureza: as unidades de conservação (UC’s). Não sem muita controvérsia. Na região de Macaé de Cima temos duas UC’s estaduais sobrepostas: o Parque Estadual dos Três Picos e a Área de Proteção Ambiental Estadual de Macaé de Cima. O maior problema nessa questão está em relação ao Parque, que por lei obriga a desapropriação de todas as propriedades em seu interior. Os moradores locais, muitos deles comprometidos com a causa ambientalista, estão receosos de serem desapropriados e por isso vêm lutando por alternativas legais para garantir simultaneamente sua permanência e a conservação da natureza local.
 
Entretanto, não são todos os moradores da região comprometidos com essa causa ambientalista citada. Durante o percurso da visita-técnica pôde-se verificar alguns impactos ambientais que, se não controlados a tempo, podem vir a prejudicar os ecossistemas locais de forma mais ampla.
 
Na parte inicial do percurso há algumas casas na margem da estrada em encostas bem íngremes, desrespeitando a lei de proteção às Áreas de Proteção Permanente (APP’s). Na altura do Km 5 podemos observar um aglomerado de casas de baixo padrão em um vale ao lado direito (sentido Macaé de Cima) da estrada. Certamente não há fossas sépticas ali, menos ainda esgotamento sanitário. Além da poluição no córrego ali presente, nota-se uma área de pastagem em uma encosta muito íngreme, onde qualquer queimada pode se alastrar para a área de floresta no entorno. Se o parcelamento da terra continuar ocorrendo ali, certamente teremos uma favela em pouco tempo. É necessária a presença da fiscalização para coibir o parcelamento e punição ao proprietário responsável por tal prática. Além disso, a presença de muitos cachorros pode prejudicar a fauna local.
 
Início de uma aglomeração subnormal na estrada. Ao fundo o Pico do Caledônia.
 
Após, nota-se durante quase todo o trajeto plantações de eucalipto. Na maior parte são pequenos eucaliptais, próximos à estrada. Há também plantações de pinus. O poder público deve ter cuidado, no entanto, para não permitir que haja novos plantios que adentrem áreas de floresta nativa e obrigar os proprietários dos eucaliptais a promoverem recuperação de áreas degradadas em suas propriedades.
 
 
Na metade do percurso aproximadamente, pôde-se ver à esquerda da estrada uma grande vertente do outro lado do vale coberta por pastagem. É uma exceção à regra nessa região, mas evidentemente o poder público deve intervir nessa(s) propriedade(s), multando e obrigando os proprietários a recuperar toda á área. Além dessa existem outras poucas áreas de pastagens durante o trajeto.
 
"Consórcio" pastagem + eucaliptal.
 
Em toda a estrada vê-se muitos sítios de recreação, mas muitos deles à venda. Isso pode ser explicado por dois motivos: 1) a dificuldade de acesso à região, pois não há linhas de ônibus no local e 2) desvalorização devido às unidades de conservação, que não permitem atividades econômicas que degradam o ambiente, como parcelamento da terra, construções, pastagens, cultivos, etc.
 

Apesar de a estrada estar em ótimo estado de conservação, fruto dos esforços dos próprios moradores, segundo conversas com alguns deles, verificou-se a presença de muitos pontos onde houve quedas de barreiras. É um fenômeno relativamente comum nas estradas de regiões montanhosas, onde o leito da estrada altera significativamente a topografia das vertentes, ocasionando sua instabilidade e provocando movimentos de massa, sobretudo durante chuvas muito fortes no verão. É preciso, no entanto, atenção do poder público para essa questão.

Durante a visita, o movimento pela estrada foi muito pequeno. Fluxo de veículos mínimo, na maior parte automóveis de passeio. Constatou-se a presença também de praticantes de MotoCross, prática que causa grande destruição ambiental caso seja praticado fora da estrada, em trilhas por dentro da floresta.
 
 
Pôde-se constatar o amplo potencial turístico da estrada. Sua primeira parte, de subida, (até a altura do Km 6) encontra-se inserida na bacia do rio Bengalas e têm-se uma bela visão do Pico do Caledônia. Após, já na bacia do rio Macaé, este rio proporciona muitos pontos para banho, além de vários pontos de visualização (mirantes) de quase todo o distrito de Lumiar. Há muitas trilhas que têm início na estrada e levam para diferentes morros, montanhas e localidades da região. No Km 11,5 destaque para a Represa de Macaé de Cima, ao lado de uma bela cachoeira.
 
Paisagem vista do mirante do Km 5,7.
 
Cachoeira "da Represa".


Ao final do percurso, destacam-se a Paróquia de São Cristóvão Mártir (chamada informalmente de “Igrejinha”), a “prainha” formada no encontro do córrego São Caetano com o rio Macaé, a ponte e, mais adiante, o Poço do Roncador e a Pedra de São Caetano, de 1657 m de altitude. Por fim, chega-se a Pousada Amantes da Natureza. Após, a estrada segue acompanhando o rio Macaé até a Fazenda Verdun.
 
Paróquia de São Cristóvão Mártir, mais conhecida como "Igrejinha de Macaé de Cima".
 
"Prainha".

Poço do Roncador.
 
Pousada Amantes da Natureza e Pedra de São Caetano ao fundo.
 
Pode-se concluir que a Estrada de Macaé de Cima é o eixo de um dos maiores conjuntos de atrativos naturais e turísticos de todo o estado. Como já dito, pouquíssimas regiões encontram-se em tão bom estado de qualidade ambiental. Com uma atuação mais presente do poder público através de programas de conservação da natureza e fiscalização, a participação dos moradores locais, o investimento em ecoturismo e sensibilização ambiental tanto dos moradores quanto dos visitantes, essa região pode continuar por muito tempo sendo tão bela e exemplo para a maioria das outras regiões, principalmente no município de Nova Friburgo.

2 comentários:

Ras Douglas disse...

Olá pessoal, meu nome é Douglas, estudante de geografia e sou componente da fundação Natureza, e me animei muito com tal projeto de diagnóstico dos pontos ambientais de Nova Friburgo, e venho me oferecer a participar deste projeto,
Antes de tudo parabenizo vocês pela atitude, e acho muito válido um estudo crítico sobre tais áreas tão lindas e pouco examinadas em Nova Friburgo

Anônimo disse...

Caro Douglas:
Legal q tenha gostado. Mande um email falando mais das suas idéias, o q vc faz, etc. Depois entramos em contato com vc.
abs!
Rodrigo